Retenção de carbono pelos remineralizadores

A ligação entre as alterações ambientais globais e a circulação do carbono é um tema de profundo interesse mundial (Steffen et al. 2015). Essa relação é especialmente notável nas regiões tropicais, onde as transformações no uso da terra têm sido aceleradas nas últimas décadas. Assim, há uma necessidade de pesquisas voltadas às camadas superficiais e orgânicos do solo. O solo apresenta o maior reservatório terrestre de Carbono (C) com 1.500-2.400 Gt (Friedlingstein et al., 2022). Paralelamente, o setor agrícola destaca-se como uma das fontes principais de emissões a nível global, particularmente devido ao seu impacto substancial no solo, resultando em perdas significativas (78 Gt) de C do solo (Zomer et al., 2017). Nesse cenário, a pesquisa sobre o ciclo do C e do N ganha relevância crescente, sendo motivada pelo interesse na evolução dos estoques desses componentes, especialmente do C. Além disso, o estudo dos fluxos gasosos, como CO e CO2 e seu papel no contexto do aquecimento global, bem como o impacto que exercem em diversos ecossistemas, tem recebido atenção substancial (IPCC, 2001).

Recentemente foi publicado na Scientific Reports da revista Science o artigo Iron oxides and aluminous clays selectively control soil carbon storage and stability in the humid tropics. Nesse artigo os pesquisadores mostram o papel de minerais para o estoque de carbono no solo e para a estabilidade da matéria orgânica em solos tropicais, principalmente ressaltando óxidos de ferro (Kirsten et al., 2021). Como essa informação se relaciona com os remineralizadores de solos?

Toda vez que os remineralizadores são aplicados no solo, estamos lançando minerais de diversas formas. Os basaltos, por exemplo, são ricos em Ferro, Magnésio, Cálcio e Silício, podendo fornecer esses elementos já no primeiro ciclo agrícola. No entanto, fornecer nutrientes ou elementos benéficos é apenas uma pequena parte do que os remineralizadores são capazes. Os minerais das rochas ao serem intemperizados, ao mesmo tempo que liberam nutrientes, também formam outros minerais que podem se associar a matéria orgânica.

Estudos tem demonstrado que o uso dos remineralizadores pode aumentar a captura de CO2 atmosférico, através da formação de microagregados carbonatados no solo (Churchman et al., 2020). Washbourne et al. (2015) destacam que a utilização de materiais ricos em CaO e MgO potencializam a absorção de CO2 durante o processo de intemperismo de silicatos e carbonatos de cálcio e magnésio. Em circunstâncias favoráveis, uma fração do CO2 dissolvido precipitaria como minerais de carbonato secundários no solo. Além disso, Schaller et al. (2023) demonstraram pela primeira vez o papel da fertilização com silício no estoque de carbono. Nesse estudo, houve um aumento significativo na produção de trigo e na biomassa após a fertilização com silício, aumentando a captação líquida de C pelo solo, ou seja, o sequestro de CO2. Esses estudos estão em consonância com Goreau (2015) que estabelece pelo menos três possibilidades para facilitar a adsorção do excesso de CO2 atmosférico, quais sejam: (a) o uso de biochar (carvão vegetal); (b) uso de remineralizadores e (c) o (re)florestamentos que podem acelerar ainda mais processo de captura do CO2. Quando essas três combinações agem de forma conjunta, o resultado é rápido e eficaz.

Vale destacar ainda que a adição de remineralizadores favorece o aumento da atividade biológica solo e consequentemente o aumento do estoque de carbono. Segundo Plewka et al. (2009) uma das principais estratégias de manejo utilizada para o pó de basalto é a associação de seu uso com diferentes fontes de biomassa. A sua aplicação do remineralizador juntamente com adubação verde e ou adubo orgânico, possibilita o aumento de microrganismos que promoverão a revitalização dos solos, dinamizando a atividade biológica de forma a manter os nutrientes em constante reciclagem na biomassa do sistema. À medida que a atividade biológica aumenta, parte do carbono proveniente da matéria orgânica pode ser incorporada ao solo na forma de matéria orgânica estável, ajudando no sequestro de carbono no solo. Isso pode ocorrer por meio da formação de agregados do solo, que são protegidos da decomposição microbiana.

Referências

CHURCHMAN, G. J. et al. (2020). Clay minerals as the key to the sequestration of carbon in soils. Clays and Clay Minerals, v. 68, n. 2, p. 135-143. DOI: 10.1007/s42860-020-00071-z.

FRIEDLINGSTEIN, P. et al. (2022). Global Carbon B udget 2021. Earth Syst. Sci. 1–191.

GOREAU, T. J. (2015) Global biogeochemical restoration to stabilize CO2, at safe levels in time to avoid severe climate change impacts to earth's life support system: implications for the United Nations Framework Convention on climate change. In: GOREAU, T. J.; LARSON, R. W.; CAMPE, J. (ed.). Geotherapy: innovative methods of soil fertility restoration, carbon sequestration and reversing CO2 increase. Boca Raton: CRC, 2015. p. 5-57.

IPCC 2001 [Intergovernmental Panel on Climate Change]. Climate change 2001: the scientific bases – The contribution of the working group I of the third assessment report Cambridge: Cambridge University, 2001. 944p.

KIRSTEN, M. et al. (2021). Iron oxides and aluminous clays selectively control soil carbon storage and stability in the humid tropics. Scientific Reports, 11(1), 5076.

PLEWKA, R. G. et al. (2009. Avaliação do uso do pó de basalto na produção de feijão. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 4, n.2, p. 4397-4400.

SCHALLER, J. et al. (2023). Increased wheat yield and soil c stocks after silica fertilization at the field scale, SCIENCE OF THE TOTAL ENVIRONMENT, VOLUME 887.

STEFFEN W. et al. (2015). Planetary boundaries: Guiding human development on a changing planet. Science, 347(6223), 1259855.

WASHBOURNE, C.-L. et al. (2015). Rapid removal of atmospheric CO2 by urban soils. Environmental Science and Technology, v. 49, n. 9, p. 5434-5440, 2015. DOI: 10.1021/es505476d.

ZOMER, R. J. et al. (2017). Global Sequestration Potential of Increased Organic Carbon in Cropland Soils. Scientific Reports, v.7, n.1. DOI:https://doi.org/10.1038/s41598-017-15794-8

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